quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A incapacidade


  Ao longo do mês, alcanço ótimos resultados com medicação, terapia e minha força de vontade. Minha melhora é muito visível. Tenho poucas recaídas, dias que tenho vontade de não sair da cama (mas saio), que não quero frequentar locais cheio, ainda mais nessa época de compras de Natal (nesse caso não frequento ou saio correndo), que procuro roupas mais discretas para me vestir, que quero ser invisível, que me considero a pessoa mais anormal do mundo, que me odeio imensamente. Sei que tudo isso faz parte do tratamento, leva tempo e sou muito paciente, assim como me ajudo bastante e sempre tenho anjinhos para me ajudar, me aconselhar e me dizer para ter calma. Sofro também com os efeitos colaterais da medicação, a bula realmente não mente e os efeitos demoram para cessar. Tontura, enjoo, dor de cabeça, visão embaçada são os mais comuns no meu caso e dependendo do dia melhoram ou pioram, uma questão de costume mesmo.

   Hoje me deparei com a matéria da Folha de São Paulo '' Depressão já é a doença mais incapacitante'' (http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/12/1563458-depressao-ja-e-a-doenca-mais-incapacitante-afirma-a-oms.shtml), ligando a doença com questão da incapacidade. Eu concordo pois é um dos sintomas que tenho e não é culpa minha. É como se o meu cérebro bloqueasse as minhas vontades de fazer as coisas, o alto astral, a minha produtividade, minha mente criativa. Eu tenho mil e uma vontades como, ver um filme, colocar alguma coisa no papel, ler livros, caminhar, conversar com alguém e meu cérebro responde '' não, não vai, não pode, não vai dar certo''. O mais difícil é enfrentar o bloqueio e infelizmente em vários momentos respeito e paro, sento, penso, fico onde estou, não me mexo. Eu me considero uma pessoa criativa, mas não consigo trabalhar a criatividade e ainda me cobro demais, talvez por isso demoro tanto para produzir o que gosto  e quero. O cérebro diz para parar, que não tá bom, ninguém vai ler, ninguém vai gostar.

  Foi durante minha atualização de conteúdo diária que me deparei com a história do Paulo Henrique, um homem de 47 anos que vive numa cama no hospital das Clínicas em São Paulo com paralisia infantil (assista em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/12/1563900-ha-46-anos-na-uti-paciente-cria-desenho-animado-assista.shtml). 
Ele diz que a vontade dele de viver só aumenta, mesmo nas condições em que vive, impossibilitado de andar, de sair da cama. O Paulo não acreditou em incapacidade e criou um desenho animado relatando sua realidade e dos demais doentes que conviveram com ele nas mesmas condições, o processo teve vários impasses, principalmente financeiros, mas deu certo e é motivo de orgulho para ele e para quem acompanhou.


  Ansiedade, tristeza, vontade de sumir, de não fazer mais nada são comuns, mas como tudo na vida, não podem ocorrer em excesso. Nada é fácil, a medicação não faz milagre e eu só estou vencendo essa incapacidade com minha força de vontade, de viver de novo e de fazer as coisas valeram a pena.